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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Trancamando.

            Eu ando sempre preocupada com o tempo e tiro sempre os sapatos antes de entrar em casa, como se a sujeira que eu escondo embaixo da cama não fosse o suficiente pra putrificar uma casa inteira. Eu vejo gente por todos os lados e sei que ainda assim, sozinha fico. Eu sinto o sol entrando pela janela e o frio das mãos dele se distanciando das minhas. Mas, frio maior, sentem aqueles que nem possuem um cobertor. Eu possuo. É de linho e seda, com meu nome bordado na ponta e me protege do frio apenas quando o meu esforço pra superar esse frio é menor. Eu vejo essa poeira toda entrar pela porta, sem pedir licença, sem tomar cuidado. Exatamente como você, que sem aviso, veio e entrou tomando posse de tudo. Não falo da minha casa. Falo de onde eu realmente vivo, aqui dentro. Você não tinha chaves, eu não tinha cadeados. Eu só rezava, todas as noites, fazendo pedidos e planos que chegassem de surpresa, mas no momento certo. E foi. Você chegou de repente, não sei se foi certo, mas veio exatamente no momento em que eu precisava aprender a dominar meus sentimentos. Uma pena eu não ter aprendido. Sou dominada por eles ainda hoje. Eu tenho cabeça de criança e ideologias mutantes. Dias estou sol, dias sou chuva e trovoadas. Eu escolho de acordo com seu humor e sua necessidade, porque a minha pouco importa. E por falar em porta, vem cá. Me diz como te prender aqui dentro e trancar essa porta invisível. Se necessário for, até cadeado viro, talvez até jogue as chaves fora, que é pra ter a certeza de que a gente não se solta mais e ninguém sente vai embora em boa hora. Andando de ônibus, alguém me olha da janela do ônibus ao lado. É um rosto triste, cara de quem procura alguém. Queria poder dizer que já estou trancada e pedir pra ele a calma que eu encontrei quando me vi assim, eufórica. Ele nem entenderia minhas contradições. Um desconhecido-vizinho-de-ônibus não consegue enxergar o suor que agora escorre das minhas mãos apenas pela mensagem que eu recebi. Nem pode sentir meu coração acelerando porque a música que toca agora me lembra o motivo de estar ouvindo essa música. Talvez um dia ele também ache um motivo. Hoje, daqui a vinte e dois minutos, amanhã, quem sabe. Ele vai se trancar e as mãos vão suar, o coração vai acelerar e ele não vai mais procurar ninguém nessas janelas. 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Tra-van-do.

         No dia em que eu precisar de beber pra vociferar o que há tempos eu guardo aqui dentro, eu bebo. E, se nesse dia você conseguir entender o que eu realmente sinto, vou passar a beber sempre. Acontece que eu não acho que a bebida me libertaria, tampouco o cigarro. Isso é só desculpa, quem sabe um dia eu precise usá-la. Enquanto não acho tão necessário, vou tentando assim, com caneta e papel. Eu queria te explicar, o que acontece com a gente. Mas, antes eu também preciso entender. Veja bem, meu bem. Já não há mais motivos e nem tempo pra viver assim, eu moro no amor, você também, então deixe-nos viver nele. Aí você me olha e diz que depende de mim. Mas carregar um amor sozinha é tão pesado, por isso que é dividido pra dois. No fundo, eu sei, é esse meu orgulho que me consome. Mas tenta não se importar com isso, que é coisa tão pouca comparado ao que eu carrego aqui dentro. Eu sou menina,  aprendiz. Nem sei o que é a vida ainda, apesar de que muito já vivi. Viu? Eu e minhas contradições. Eu queria poder dizer em poucas palavras o que você precisa saber pra me entender muito bem, obrigada. Mas é difícil pra mim. Eu travo. Eu fujo. Eu fecho os olhos e finjo não ter nada na cabeça. Eu tento fugir de mim. Eu já tentei fugir de você. É medo. É fuga de um bem danado, por isso que não saio do canto. Eu quero ficar por perto, eu quero te ver bem lento, mas eu vou tra-van-do, e você vai calando, aceitando isso tudo, como quem não faz esforço nenhum pra não se acostumar. E depois, pensa em ir embora. Pega a mala, enche a sacola e põe o pé no mundo. Ora, volte aqui! Que lugar estranho é esse que não é perto de mim? Eu vou curar essa agonia e vou crescendo aos pouquinhos. Lembro de cada palavra que já falamos. Lembro de cada gesto, cada olhar, cada meio-termo que discutimos. Isso não é coisa pouca. Não é de se jogar fora. Então para, olha pra trás, para de olhar pra outros lados. Enxerga o que tem que enxergar que tudo vai ficar mais fácil. Desfaz essas malas, chuta essa bola pra dentro, tira a coleira do cachorro. Desliga essa TV e vem conversar comigo. Vamos aprender a conversar devagarzinho, uma palavra de cada vez. Já guardei a caneta, já rasguei o papel e estou quase abrindo mão da minha aversão por promessas.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

sábado, 19 de novembro de 2011







 (...)     "Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês. Se o primeiro e o último pensamento do dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente divino: o amor. Se um dia tiver que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro. Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida. Se você conseguir em pensamento sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado... se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados... Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite... se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado... Se você tiver a certeza que vai ver a pessoa envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela... Se você preferir morrer antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. É uma dádiva. Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Ou às vezes encontram e por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.
      É o livre-arbítrio. Por isso preste atenção nos sinais, não deixe que as loucuras do dia a dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor."

                                                                       

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

           
       Eu já pensei tanto em desistir, que nem você, nem ninguém é capaz de imaginar. Eu já pensei tanto em ir embora, que minha casa já sabe que não me tem inteira, porque metade de mim está aqui dentro e a outra metade, mora bem longe. Eu já quis tanto te insultar, que qualquer palavra inqualificável  serviria de poema para os meus ouvidos. Eu já quis tanto não sentir, que meu coração fica latejando e eu sinto minha pulsação bem mais forte, quase como castigo pra quem não quer sentir nada. Eu penso tanto em você, que meu cérebro fica lento quando tento pensar em outra coisa e eu perco os subsídios pra uma imaginação mais fértil. É uma semi-letargia. Eu ando tão frágil ultimamente, que minha pressão baixa, eu finco tonta, tremendo, e escondo minhas mãos pra que você não veja. Eu não suporto a ideia de você me enxergar como uma fraca e sentir pena. 
     Dia desses eu saio correndo, feito louca, sem querer saber onde vou parar, em quem vou tropeçar. Talvez até tropece em você, vou te bater, sem querer te machucar, sem querer saber quem sou. Eu minto quando digo que desisto de entender, porque no fundo é o que eu quero, mas não consigo. Eu minto quando digo que não dói. Minto quando digo que não sinto nada ao lembrar da primeira vez que brigamos. Eu tenho esse direito de querer esconder minhas dores. Eu escuto as canções que eu fiz, e vou te encaixando em cada frase que eu escrevi. Você sabe bem o quanto eu quero te alcançar as vezes e parece que, propositalmente, vai se distanciando, esperando que eu vá atrás. E eu não vou. Não por que não quero, mas porque não consigo. 
     Eu sou tão dramática quando escrevo, que fico rindo de mim mesma. Nem tudo que eu quero te falar, eu tenho coragem. E ninguém vai conseguir enxergar nessas letras o que eu quero, de fato, dizer. Você acha que me conhece bem, nem eu me conheço. Nem nos conhecemos, nunca nos encontramos de verdade. Você vai indo embora sem olhar pra trás, e eu vou correndo em sentido oposto, achando que vou te encontrar na outra ponta. Acho melhor parar com a bebiba, eu nem sei do que estou falando. Eu vou mentindo pra mim mesma. Digo e repito: eu não te amo. E só as duas últimas vão sendo injetadas em mim. Quanta ironia, até parece que é necessário.      

Da carta recebida.

      Exatamente às 20:30, o mesmo horário em que sempre nos encontrávamos, recebi uma correspondência. Não tinha endereço. Não havia remetente. Apenas um envelope velho, tanto quanto o costume de mandar cartas. Abri. Era um papel velho, rabiscado, rasgado e amarelado pelo tempo. Era um papel velho. Sensível e tosco. Era um papel rabiscado. Era velho, fim. A letra era medonha, engraçada e vermelha. Logo reconheci, meus olhos brilhavam e enchiam de lágrimas. Era você!
     Li, interpretei de várias formas, idealizei várias realidades, mas entendi o recado. Sempre foi assim, não é? Jamais fomos objetivos. Não lembro de termos feito alguma promessa, mas nunca fomos diretos ao ponto. Aquela folha amarelada e ressecada não era apenas o primeiro bilhete que você me deu, significava o fim de tudo. Aquelas rimas toscas e repetidas, significavam suas palavras vazias, nossas promessas vãs e nossas discussões sem propósito. Hoje eu vejo que te entendia e me surpreendo com sua forma sutil de pôr um fim nas coisas e mostrar que tudo está descolorido.

     Fechei a carta. Peguei o café, um dos seus vícios. Abri as janelas, deixei o vento circular. Pus a meia, não queria sentir frio. Me joguei no sofá, resolvi esperar a madrugada. Sua carta cabia na palma da minha mão. Por muito tempo eu esperei criar coragem e jogá-la pela janela. Mas não criei coragem e tampouco, motivos. Nunca fui do tipo infantil, você me conhece. E por falar em conhecer, encontrei seu avesso. Deixei naquele parque e as lembranças deixei no mar, como quando dei aquele mergulho na sua vida e deixei a minha. Tudo foi ficando com você. Tudo foi ficando. E agora tudo está indo. Tudo está voltando.
     Não reparem a letra, não reparem os verbos. Não reparem a falta de coerência. Mas minha cabeça está longe. Eu não sei como apagar tatuagens. Eu não sei como apagar marcas. Já tentei novos amores. Já tentei rasgar as cartas. Já tentei de várias formas substituir. Mas sua vida sempre vem parar na minha.
    
Oito e meia da manhã. É hora de levantar. Sua carta (minha carta) voou pela janela sem que eu precisasse jogá-la. Meu cabelo assanhou. Minha unha quebrou. Minha meia está rasgada. Meus planos eu refiz em sonhos. O sol está aparecendo. Hoje vou à praia. Vou mergulhar mesmo com medo. Vou dar sete pulinhos, fazer pedidos e praticar o desapego. 

Dos quereres.

      Bom dia. Boa Tarde. Boa noite. Eu desejo que sejam bons, todos os momentos.
Vira e mexe vou falando do que quero. Nós humanos, "queremos", o tempo todo. Hoje eu acordei querendo um pouco mais de razão. Sabe, ultimamente - e sempre foi assim- ando querendo mais de mim, porque já quis muito dos outros. E não obtive sucesso nos meus quereres. Eu queria mais compreensão, e sempre quis menos egoísmo, sem saber se era egoísmo o meu querer. É querer demais desejar que os outros pensem mais em mim? É, é sim.
    Nunca quis ser loira, e hoje sou. Cômico, não? Os quereres têm dessas coisas. Um dia disse que jamais seria professora. E prestarei vestibular pra Letras. Parece que a vida quer te ensinar a não querer. Um dia quis ter o cabelo grande, hoje tenho vontade de cabelo curto, de cachos e de franjas. Pinto minhas unhas apenas de vermelho, hoje quis pintar de preto. Já quis ter cabelo roxo. Já quis tomar banho de chuva e tomei. Já quis tanto uma bicicleta, que quando tive, desprezei-a. Nunca quero falar de mim, e olhe só do que estou falando.
   Eu quero dez coisas ao mesmo tempo. E desejo apenas querer uma. Eu, nessa manifestação do querer, quero manifestações do silêncio, e quero sempre a verdade. Não queria querer. Não quero nunca querer. E desejo querer sempre. Não queira entender.Eu queria ser maior, ser mais forte. Um dia quis ser fria, e tenho medo de tornar um dia, um cubo de gelo ambulante, onde nenhum sentimento penetrará, onde força alguma caberá. Porque gelo derrete quando algo esquenta, e o amor tem temperatura elevadíssima. O problema é que hoje em dia, ninguém quer amar.
     Um dia conversei com um amigo e quis saber qual o meu pronto fraco. Eu quis descobrir qual era o seu maior segredo. Eu queria um abraço e um beijo. Um dia quis amar um amigo e amei. Eu quis, eu quero, eu quero. Nós sempre vamos querer, mesmo sem sentir. Eu quis perceber quem mentia pra mim. Eu quis descobrir verdades. Eu quis nunca ser enganada e fui. Eu já tive o que quis. E tive algo do que nunca quis ter. Eu quis querer muitas coisas.  
    Quereres, isso eu possuo, mesmo sem querer. Porque assim é a vida, e assim são as pessoas, querendo sempre nos contrariar.

Descalçando os pés.




       De todas as viagens que já fiz, de tantas outras que já desejei fazer, essa será a única que não terá volta. Foi o que resolvi, de forma imediata, sem pensar no que me acontecerá depois. Na minha mala, levo o necessário pra manter minha lucidez, se é que necessito. No bolso, algumas moedas. Na cabeça, as lembranças dos bons amigos e as lições que tirei de todas as aversões que me couberam um dia. Levo a fotografia. Levo a cor. Levo os sons que ouvi, que marcaram, que deixaram rastros. Levo as pegadas. Levo os sonhos e as cartas. Levo você comigo.Não quero me despedir, também não sei se vou voltar. Mas não quero levar comigo nenhuma dor, a não ser que seja saudade, que as vezes bate no peito. Levarei as lágrimas e minha sensibilidade justa. Carregarei alguns livros na memória, já que os próximos serão escritos por mim, com minha letra, no meu papel amarelado e rasgado. Resolvi ir, porque já não há mais razão pra se prender a nada. Esse mundo é normal demais, as coisas anormais é que dariam um jeito em tudo.Eu vou viver pelo mundo, vou andar de carona, fazer viagem astral. Qualquer coisa que me livre dessa realidade absurda que se propaga e nos faz reféns por estarmos acostumados. Eu não quero me acostumar a nada, nunca quis. E por isso vou, estou indo embora. Sinto que estou ficando leve, só de falar. Vou conhecer outros lugares, vou viver da natureza e do que ela nos oferece. Vou tomar banho de sol, de lua, de chuva. e de mar. Meus pés estarão descalços, meus cabelos despenteados. E minhas mãos estarão dadas às  suas.Vamos viver de amor.

A felicidade a gente leva numa mochila velha, que é pra não chamar a atenção dos ladrões.

Do que eu levo na sacola.

      Hoje acordei meio "assim", sabe? Acordei abrindo um olho de cada vez, alongando os braços, esticando os dedinhos. Cada movimento bem pensado e perfeitamente executado. Acordei leve. Levantei com o pé direito, com um sorriso de orelha à orelha. Acordei com uma vontade medonha de dar um mergulho no mar, beber umas cervejas, fazer planos pro futuro, planejar meu casamento na praia e escolher o nome dos meus dois belos filhos, que serão a cara do pai. Liguei o som, tocava "Here comes the sun" e eu rebolava no txu ru ru ru. Sim, REBOLEI.Fui "pro mundo", saí sem rumo na bicicleta na qual eu nem sei andar. Mas nada que umas boas quedas não possam me ensinar. A vida é mesmo assim. Saí com a blusa mais clara que achei. Nada de preto, nada de cinza, nada chamativo. Comprei frutas vermelhas e algumas flores pra enfeitar a sala. Eu nem lembrava há quanto tempo não comprava flores. Já li em algum lugar, se não me engano, Paulo Coelho, que dizia que tem tentar possuir uma flor, verá sua beleza murchar. E é bem verdade, mas não dispenso a chance de ver a casa perfumada. Todas aquelas flores me acalmam, assim como o barulho do vento me acalma, assim como o barulho das pessoas me acalma. Não gosto muito de silêncio, apesar de cultivá-lo. Enfim, flores me deixam feliz.Acho a maior graça me ver falando em felicidade. Eu sou feliz, sabe?! Mas uma tristeza de vem quando me cai bem. Convém. Condiz. Tristeza não é coisa de outro mundo, meu povo. Eu posso fazer as mesmas coisas que a felicidade me induz, mas a tristeza é mais calma, enquanto a felicidade é eufórica. No entanto, hoje acordei querendo felicidade. E mesmo que não quisesse, ela estaria aqui. Ela esteve na minha noite, nos meus sonhos, e me fez levantar da cama. Eu, que já não fazia mais planos, por escolha minha, resolvi planejar o futuro. Dei um beijo na testa do porteiro, desejei um bom dia, apertei a mão do vendedor de frutas, cantarolei Beatles pela rua, me exibindo com minhas flores que murcharão daqui a alguns dias, mas enquanto durar sua beleza efêmera, eu vou ser feliz.Hoje eu acordei querendo plantar uma árvore. Escrevi no papel higiênico inúmeras cartas com canetas coloridas, assinei com letras de fôrma, enviei aos meus amigos. Usei batom vermelho, pintei a unha de verde, vesti uma roupa furada, passei o dia descalça, mandei torpedos, quebrei a TV, não cheguei perto do computador, liguei o som nas alturas, esperei a noite chegar. E chegou. Chegou como sempre chega. É que as vezes me esqueço. Volta e meia eu sempre arrumo um tempo pra falar da lua. Não sei disfarçar esse meu encanto para com ela. "Tá" aí, outra coisa que me traz felicidade.Se eu parasse pra listar as inúmeras coisas que me fazem feliz, caberia no meu bolso um papel, são coisas simples. Nem preciso de listas, conto nos dedos. Não gosto de nada extraordinário. Fazer nada me faz feliz, depende de com quem eu faço nada, entende? Felicidade é uma questão de sentir e de carregar. Eu sinto e carrego, dessa vez, numa caixa de sapatos.

domingo, 6 de novembro de 2011


                      E se à meia-noite o sol raiar
                        E se o meu país for um jardim
                             E se eu convidá-la para dançar
                                E se ela ficar assim, assim
                                  E se eu lhe entregar meu coração
                                       E meu coração for um quindim
                                              E se o meu amor gostar então
                                                            De mim.

Nós para amarrar nós.

         Hoje eu só queria te ver e ficar calada, quieta. Até porque falar nunca foi meu ponto forte, sou melhor observando. E exatamente assim foi que melhor te conheci. Talvez você nem sabia dos detalhes que eu consigo reparar. Seus sorrisos, por exemplo, são vários. Posso perceber através do seu sorriso a sua agonia, sua felicidade, sua raiva, timidez ou até mesmo um sorriso sem motivo, sem graça, sem cor. Conheço cada sinal, por mais imperceptíveis que sejam e por isso tornaram-se tão meus. Ainda que eu saiba como se sentes, não sei se devo, mas aceito o que tentas fingir. Embora ache que te conheça perfeitamente, você acaba escapando. Te perco fácil. Mania minha de perder as coisas de extrema importância na minha vida. Ainda não aprendi a dar valor e possuir ao mesmo tempo. E por falar em tempo... Há tempos não te vejo, não te toco, não te sinto. Não ouço seus sambas, suas rimas, seus poemas. Não danço do seu jeito, não tropeço em você, não conto seus sinais que são meus. Não sei por onde andas, com quem andas, quem segura as suas mãos. Não sei de você, não sei de nós dois, não sei de nada. Eu sinto o seu perfume em cada página dos livros, em cada roupa que eu não lavei pra não deixar de sentir o seu cheiro. Eu só bebo água no copo em que você bebeu aquele vinho e só assim eu toco bem perto da sua boca. Vivo agora nesse estado desprezível de um ser humano. Eu nem sei se você foi embora mesmo, talvez eu tenha te visto há doze minutos. Mas meu drama é pra te trazer pra perto, a saudade tem dessas coisas. Eu sou uma criança mimada e você o velho-senhor-cheio-de-sabedoria. Os períodos que eu escrevo são curtos, não sou fã das vírgulas, amo os pontos. Eu só queria ser mais direta, te trazer sempre pra perto, não te deixar ir embora, segurar suas mãos. Não importa se doze, onze ou três minutos, um segundo seria o bastante pra você ir e voltar. Eu vou dar um nó, desses nós que são cegos, que não soltam, não desamarram. Que é pra poder ter tempo e não desgrudar de tu, menino. Vou recontar seus sinais, conhecer seus dez outros tipos de sorrisos e te ouvir cantar aqueles sambas de uma nota só.

Bate-tum-tum-tum, cambaleia.

    Estou cambaleando, amor. Cambaleando no samba. Cambalear é bom. Estou cantando sem rima ou cor, dançando de perna bamba, eu curto perder o tom. Não sei se vou embora quando esse sambinha acabar, talvez eu ouça uma bossa, sozinha e em casa, deixando o sonzinho me acompanhar. Cadê você, paixão? Venha trazer meu violão, eu nunca mais vou te emprestar. Estou errando no pronome, querido. Mas gosto desse estilo misto, adoro me atrapalhar. Nem sei do que estou falando, o que tem a ver o português com o samba que eu tô tentando criar? Se coloque nesse meu canto, amor. Olha como eu venho te chamando. Sente o que eu também venho sentindo. Veja que eu não sei fazer as rimas. Sambe como eu não sei sambar. Escute aquela velha bossa. Passei de prosa pra texto injuntivo. Não quero ser manual na sua vida. Vem viver nas minhas crônicas e curar minha agonia. Quero mais é ser narradora-personagem, contar daquela viagem que você me prometeu. Lembra que promessa é dívida, que a minha dúvida é ser ou não divida em aceitar ou não essas promessas. Parei de tentar fazer rimas, eu não sei falar, eu não sou poeta. Olha o som que vem de dentro, bate-tum-tum-tum acelerado, eu ouço só de encostar o ouvido no teu abraço. Bate-tum-tum, estou cambaleando, amor. Cambaleando no samba. Cambalear é bom.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Despindo ida. Doída. Despedida.

            Acabou, não é? Eu sei que acabou. Eu pude ver nos seus olhos, quase nem acreditei. Na verdade, não quis acreditar. E finjo que não sei de nada. É que eu sou fraca demais, e as vezes fingir pra mim mesma diminui a dor por mais alguns dois segundos. Eu não me preparei pra soltar das suas mãos e caminhar sozinha assim, tão de repente. Eu sou menina, amor, me entenda. Sou uma criança aprendendo a andar nessas linhas curvas que compõem a vida. Não quero que segure minhas mãos e me ajude atravessar as ruas, apenas por pena ou cuidado. Eu queria que fosse amor, amor de atravessar ruas porque seguem o mesmo caminho. Dá pra entender essas coisas? Eu tinha tanto ainda pra te falar, coisas que nem mesmo ouvi e falaria pela primeira vez. Mas você está indo assim, devagarzinho, de mansinho pra não me acordar. Se for mesmo, deixa minha lista de desejos, que não serão os mesmos sem você, mas vão me servir de roteiro por um bom tempo. Desculpa se eu não sei amar ainda, eu achava que estava aprendendo. Meu coração acelerado é quem dizia. Agora, por favor, me manda levantar a cabeça e seguir. Me deseja uma boa noite e canta pela última vez, só pra eu tentar dormir.
             Aguenta, coração. Que essa vida não é fácil, que as pessoas são de verdade e a verdade as vezes machuca. Aguenta, coração. Que você não é de ferro, que esse mundo anda triste, que os  sonhos não são tão reais. Aguenta, coração. Já que você quer amar, você precisa de paciência, não canse de esperar aquele que te completa. Aguenta, coração. Que os meus olhos estão piscando, que ele está se aproximando, "tá" dando um frio na barriga, minhas mãos estão suando. Aguenta, coração. Que ele está no meu abraço, está curando minhas dores, "tá" se doando pra mim. Aguenta, porque o tempo está passando, as coisas estão mudando, nada é como era antes. Aguenta, coração. Que agora eu já tenho idade, o tempo corre pela casa, assim como correm as crianças. Aguenta, coração. Você já não bate tão forte, minha respiração anda fraca, sinto meus olhos fechando. Aguentastes, tudo o que tu podias. Com você eu fui criança, acelerastes minha vida, me fizestes amar como ninguém e agora vê se descansa em paz.

terça-feira, 19 de abril de 2011

                                 Me tem, me larga e chora
                          Não vem do meu lado e ri
                          Como entender? Fecho os olhos
                           Não seguro a dor. Dó que dá.

                        Te tinha, te tenho? Perdi.
                        A vida é mesmo imprevisível
                       São os clichês que dizem
                        E o mundo condiz sem eu conduzir

                       Eu voo, eu vou. Eu fui.
                       Andei sem saber pra onde
                      Te segui sem saber como
                      Te perco todo dia sem querer.

                       Eu vejo o escuro, eu me vejo
                      Só. Só eu sei o medo que dá
                      Aqui, agora, cadê você?
                      Cadê meu ar, cadê, clichê?

Desencontrando.

   Você lá e eu cá. É assim que seguimos. Unidos apenas por ligações breves e desafiadoras. Limitados em um "oi, tudo bem?", imaginamos, tensos e orgulhosos quem fará a primeira pergunta. Mas seguimos, da mesma forma que começamos: você lá e eu cá. 
    No fundo e bem na verdade, sempre foi assim. Mesmo que estivéssemos juntos, cada uma estava no seu canto, sozinho, pensante. No que você pensava eu não sei, mas meu pensamento era só esse, criando hipóteses da sua própria imaginação. Bem que eu queria, e era tudo que eu queria poder desvendar e manipular seus pensamentos, mas não deu. Não dá.
  Então tento me conformar e me iludo, querendo acreditar que seu pensamento sou só eu. Mas quanto a isso, lá no fundo, meu coração me desilude. É uma pena. Tudo em mim parece contraditório, minha razão diz pra eu ser otimista, enquanto meu coração me mostra a realidade. Não quero dizer que os pessimistas sejam certos, porém, não acreditam em qualquer coisa e não se conformam com tão pouco. Mas voltanto a falar de nossa proximidade tão longíqua, quero te pedir um favor. Me escreva, amor. Me descreva, me clareie. Me diga como me vê e me ensina a me mostrar diferente. Antes de qualquer coisa, ensine a me aproximar, estando longe ou perto. Deixa eu ficar perto dos seus pensamentos e estar neles. Só não me venha com essa de "cada um pro seu lado".

terça-feira, 5 de abril de 2011

 Eu quero e preciso te ver. Antes que a noite caia. Antes que os segundos passem. Antes que as folhas das árvores movimentem-se e criem outras formas. E por falar em sombras, me deixe ser a sua. E assim deixe que eu te siga por todos os caminhos. Não te incomodarei nem falarei nada. Só vou ficar ao seu lado e me bastará. Mas não me deixe ir embora quando o sol sumir.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sobre o convite.

 Vim. E vim pra te agradecer por ter me convidado para seu casamento. Quase não fui, confesso. Tive medo e me segurei pra não estragar tudo. Me perguntei se me convidara por consideração ou por deboche, apenas pra me provocar, o que faz bem o seu tipo. E se foi a segunda, a sua opção, conseguiu. E no fundo já sabias que conseguiria. Doeu em mim, mas não queria sair como perdedora. E fui. Fui na esperança de que desistisse de tudo e ficasse comigo. Fui. E fui linda.
  Estava tudo deslumbrante, lindo. Detalhista, como você sempre foi, cuidou pra que tudo ficasse a sua cara. O que me irritou foi que tudo estava exatamente como fáriamos no nosso casamento. Mas não dei espaço pra tanta raiva. Gastei todo o meu tempo imaginando que ali no altar deveriam estar os nossos amigos padrinhos, nossos pais, e eu, como noiva. 
    Senti várias vezes que as músicas queriam me dizer algo. Me davam sinais. Como se me induzissem à parar com aquele casamento, matar o meu orgulho e declarar todo meu amor que ainda estava vivo e vociferando dentro de mim. Mas não tive forças. Não tive coragem. Eu fui covarde mais uma vez. Mas fui sã e correta. Se considerar-mos correto deixar que as coisas aconteçam sozinhas. 
   Não suportei a dor e não segurei o pranto quando te vi naquele altar, esperando sua noiva, e quando olhou pra mim, colocando a mão no lado esquerdo do peito, como sempre fazia pra me dizer que seu coração estava batendo mais rápido quando me via. Eu vi. Eu tive a certeza de estar vendo uma lágrima escorrendo no seu rosto. Foi quando sua noiva chegou.
   Aproveitei então, que todas as atenções estariam voltadas pra ela, e decidi ir embora. Sim, até porque não aguentaria mais ficar ali até o fim. Olhei pra trás várias vezes esperando que você viesse atrás de mim. Mas pude te ver inerte, apenas de cabeça baixa. Tocava "Planeta água" e minhas lágrimas derramavam em mim um planeta de lembranças. Desde o começo, até o dia em que recebi o convite. Bom, depois de lá, fui ao lugar onde nos encontramos pela primeira vez. Pude sentir seu cheiro, seu abraço, ouvir sua voz. Mas deve ter sido apenas o efeito da bebiba. Sim, querido, acredite. Eu bebi. Bebi por sua causa.  
    Agradeço o convite porque pude, com aquele casamento, que me esfregou na cara de uma vez por todas que te perdi, continuar minha vida. As vezes tenho minhas recaídas, penso em você e choro. Mas aos poucos sei que vai passar. Talvez eu me arrependa por não ter estragado aquilo tudo. Talvez. Mas é tarde.

                     Eu sigo só hoje. Sigo só, hoje. Sigo, só hoje. Eu sigo!

                   Joguei fora impurezas que achei embaixo do seu tapete velho. Apaguei os beijos marcados que vi ressaltados em suas mãos. Perdi a conta de quantas cartas velhas achei no seu relicário. Rasguei-as e queimei. Quis renovar sua cabeça, seu sonhos, seus planos. Esqueci seu coração. Trabalho debalde, o meu.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Mania de mulher.

       Mania de mulher é amar as coisas impossíveis, é correr atrás do imperfeito, é relaxar demais. Mania de mulher é a posse, a vírgula,  a interrogação. Mania de mulher é confundir, se iludir, se dar demais. Mania de mulher é a entrega. Mania de mulher é o choro,  a sensibilidade, é a "dó". Que dó que dá. Mania de mulher é implorar. 
     Mania de mulher é a explosão, é o impulso, é o medo. Mania de mulher dá medo. Mania de mulher... é o desejo. Mania de mulher é a dor de cotovelo, é escutar música e chorar, é a dor, o arrependimento. Mania de mulher é dar tempo. Mania de mulher, é não ter tempo. 
    Mania de mulher é falar demais e se arrepender, não falar nada e se arrepender também. Mania de mulher é ser refém. É aprender a mudar sem querer, é se olhar no espelho, gravar datas, se contentar com o mais simples, é não medir. Mania de mulher é sentir. Mania de mulher é escolher demais e aceitar qualquer coisa no final. É sentir a dor dos outros, perdoar demais, escutar demais, ser demais, amar demais, ligar demais, chamar demais. Mania de mulher é o exagero.
        Mania de mulher é ter mania e ainda assim não possuir nada.




                                                   


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

        Eu não sei mais escrever. Rabisquei um monte de papeis, joguei fora. Queimei tudo que um dia escrevi falando de dor. Arrependimento logo bateu, por ser a dor, um dia, uma das minhas mais nobres fontes de inpiração. No lugar de caneta, carrego comigo agora um gelo em mãos, que derretem em fração de segundos. E dedico meu tempo enxugando-o, fazendo um trabalho debalde, tão frio ao mesmo tempo. Desconheço-me. Perdi a cor. 
 Escrever era o que eu mais sabia, era o que me fortalecia nos meus dias sem fé. Mas tenho fé, se é o que acho que sei. Não penso mais, não choro mais lendo cartas, porque não tenho no que pensar e as cartas eu rasguei. As únicas que tenho são as que escrevi sem destinatário, sem endereço, sem data.
 Hoje, agora, não sei do que falar. Me pergunta o que sou e responde em silêncio: silêncio! Porque o que eu escrevia era minha voz e isso eu não sei mais. Ainda assim, falo mais do que devia. Silenciando.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Ação.

     "Desenhei flores no caminho, pra lembrar que sempre vou estar aqui mesmo indo embora. Espalhei meu perfume por todo o jardim, pra inspirar meu cheiro, lembrar que por aqui vivi. Cortei meu cabelo, joguei pelas ruas para que fiques preso, como uma algema imaginária, serás então um prisioneiro livre do meu amor. Fechei os olhos, vi o nada e senti medo, mas se quiser voltar agora,nem me procure,é tarde. Não estarei aqui. Abri os olhos vi a claridade, como uma força que cabe dentro de mim,quis te achar, só encontrei a liberdade! Então corri, pra procurar felicidade que cada um tem dentro de si. Voltei, recolhi as flores, retirei meu perfume, joguei outras algemas. Não sou eu que estou perdida, não quero marcar caminho, me achei sozinha. Vou viajar, não deixarei pistas, na mala apenas a esperança pra me proteger já que morre depois de mim. Pra me acher é fácil, deixarei o endereço do infinito, se quiser cortar caminho, basta seguir o brilho do meu olhar, encontrarás o sol que te guiará como um foral. Se preferir seu próprio caminho, verás que estou mais perto do que imaginas, de braços abertos, com as flores que recolhi pra te dar, com o perfume que jamais vai esquecer, com as algemas que criei apenas pra te libertar. Verás que o sol não se esconde, nós que usamos óculos escuros; que a lua brilha todos os dias, mas nós ofuscamos seu brilho límpido e natural acendendo as luzes; que o amor não é perfeito, seu nome é amor não perfeição; que a saudade é a força de atração entre dois corpos e que o abraço é a união deles; que o beijo é a tecla ''repetir'' do controle remoto de cada vida par; que adeus vindo, de quem ama, é na verdade um "me siga"; que você sem mim não é nada, eu sem você não sou nada, que eu e você: um pedaço ao meio e nós um só; que por trás de cada palavra há um segredo, uma vontade; que basta ser sincero pra ter sinceridade; que ao fechar os olhos é só dar as mãos pra encontrar a claridade; que apenas um eu te amo muda a humanidade; que as vezes é bom sentir saudade; que o sol é amigo da SOLidariedade, ainda existes amigos de verdade, que tudo começa na amizade e que o amor, quando é amor, se for amor, é pra eternidade!"

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Das promessas.

      “Prometemos pra nós mesmos ser eternos até o fim. Mas os dias passam, o mundo gira, a vida continua. As mudanças surgem porque escritas foram, antes mesmo de nascermos. Não há como fugir e nem pra quê. Padecemos e obedecemos ao destino. Promessas foram feitas na intenção de serem cumpridas, mas quem manda no vento que troca de caminhos? Quem manda nos grãos de areia que em questão de segundos podem mover-se para outro lugar?
Promessas: Palavras perdidas.
        Sonhamos todos os dias com olhos fechados e bem abertos. Mas sonhar e querer, não é ter fé. Pra cada dia tivemos a oportunidade de nascer, renascer, recomeçar ou até mesmo só acordar, e fazer valer à pena a chance que tivemos de estar juntos por uma “estação”. Estação essa, que como os dias passam, o mundo gira, o vento troca de caminhos e como os grãos de areia movimentam-se, também passou.
        Em uma só estação tivemos temporais, alegrias ensolaradas, o chuvisco que nos une com um abraço, o florescer da vida, e agora, um outono. De longe repentino, onde todas as folhas caem e renovam-se.
Chegou então o momento do recomeço, ou, diga-se de passagem, um começo novo. Novas histórias, novos dias, novos ventos, novos grãos a movimentar-se, novas canções, tempestades e flores. Assim sendo, até que venha uma próxima estação."

Casualmente.

      Meia-noite não é lá uma boa hora pra se bater na porta de alguém, mas você veio. E veio com uma das desculpas mais insanas que já escutei. Pra que serviria uma vela, no clarão da sua vida, à meia-noite? Sorri pra você pra que soubesse que estava tudo bem e que eu estava feliz em vê-lo. Foi aí que me abraçou, com um abraço que só a meia-noite explica. Na monotonia dos meus braços sós, eu soube, a partir dali, que nunca mais estaria. Pelo menos não naquele momento, em que todo segundo parecia -e pra mim era- infinito. "Mais vale vários infinitos do que apenas um", pensei.
     Olhava em meus olhos como se fosse o primeiro olhar de quem se diz perdidamente apaixonado, e eu que nem tenho fé no amor. (OK, eu tenho.) Acredito no amor e seus poderes. Alisei seus cabelos que, de repente, estavam voando, sem vento. Conversamos na escada. Fui tão mal-educada no seu ponto de vista, talvez. Mas nem tinha tempo pra pensar em educação e, sobretudo, nunca tive muita amizade com o tempo.
     Falamos sobre você, sobre mim, sobre o frio e sobre minha frieza. Falamos de música e poesia, do passado, mas passou. Calamos. Trocamos silenciosamente o calor das minhas mãos nas suas, sorrimos. Eu queria nunca ver o tempo passar, a não ser ali, daquela forma, de mãos entrelaçadas. Toquei seu rosto, seu nariz gelado. 
Eu ainda tinha tanto a dizer desde a última vez que nos vimos que achei que não fosse ter tempo e economizei nas palavras com medo de não poder concluir. Então, resumi todo o meu discurso em um olhar e uma só palavra: "saudade".
     Você sorriu e me abraçou. Vi seus olhos brilhando e todo aquele brilho refletiu nos meus. Eu não queria te ver longe, mas não sabia o que fazer. Entreguei-me ao acaso.
Parecia só existir nós dois no mundo. O tempo estava voando e não sei se só metaforicamente. Você “colou” seu nariz no meu, senti que viria um beijo... despertei.
Amanheceu, era só um sonho. Bateram na porta às 06h00: carteiro. Era uma carta sua. Abri desesperadamente, senti seu cheiro, chorei. Dizias "Sonhei com você... SAUDADE!"