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terça-feira, 19 de abril de 2011

                                 Me tem, me larga e chora
                          Não vem do meu lado e ri
                          Como entender? Fecho os olhos
                           Não seguro a dor. Dó que dá.

                        Te tinha, te tenho? Perdi.
                        A vida é mesmo imprevisível
                       São os clichês que dizem
                        E o mundo condiz sem eu conduzir

                       Eu voo, eu vou. Eu fui.
                       Andei sem saber pra onde
                      Te segui sem saber como
                      Te perco todo dia sem querer.

                       Eu vejo o escuro, eu me vejo
                      Só. Só eu sei o medo que dá
                      Aqui, agora, cadê você?
                      Cadê meu ar, cadê, clichê?

Desencontrando.

   Você lá e eu cá. É assim que seguimos. Unidos apenas por ligações breves e desafiadoras. Limitados em um "oi, tudo bem?", imaginamos, tensos e orgulhosos quem fará a primeira pergunta. Mas seguimos, da mesma forma que começamos: você lá e eu cá. 
    No fundo e bem na verdade, sempre foi assim. Mesmo que estivéssemos juntos, cada uma estava no seu canto, sozinho, pensante. No que você pensava eu não sei, mas meu pensamento era só esse, criando hipóteses da sua própria imaginação. Bem que eu queria, e era tudo que eu queria poder desvendar e manipular seus pensamentos, mas não deu. Não dá.
  Então tento me conformar e me iludo, querendo acreditar que seu pensamento sou só eu. Mas quanto a isso, lá no fundo, meu coração me desilude. É uma pena. Tudo em mim parece contraditório, minha razão diz pra eu ser otimista, enquanto meu coração me mostra a realidade. Não quero dizer que os pessimistas sejam certos, porém, não acreditam em qualquer coisa e não se conformam com tão pouco. Mas voltanto a falar de nossa proximidade tão longíqua, quero te pedir um favor. Me escreva, amor. Me descreva, me clareie. Me diga como me vê e me ensina a me mostrar diferente. Antes de qualquer coisa, ensine a me aproximar, estando longe ou perto. Deixa eu ficar perto dos seus pensamentos e estar neles. Só não me venha com essa de "cada um pro seu lado".

terça-feira, 5 de abril de 2011

 Eu quero e preciso te ver. Antes que a noite caia. Antes que os segundos passem. Antes que as folhas das árvores movimentem-se e criem outras formas. E por falar em sombras, me deixe ser a sua. E assim deixe que eu te siga por todos os caminhos. Não te incomodarei nem falarei nada. Só vou ficar ao seu lado e me bastará. Mas não me deixe ir embora quando o sol sumir.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sobre o convite.

 Vim. E vim pra te agradecer por ter me convidado para seu casamento. Quase não fui, confesso. Tive medo e me segurei pra não estragar tudo. Me perguntei se me convidara por consideração ou por deboche, apenas pra me provocar, o que faz bem o seu tipo. E se foi a segunda, a sua opção, conseguiu. E no fundo já sabias que conseguiria. Doeu em mim, mas não queria sair como perdedora. E fui. Fui na esperança de que desistisse de tudo e ficasse comigo. Fui. E fui linda.
  Estava tudo deslumbrante, lindo. Detalhista, como você sempre foi, cuidou pra que tudo ficasse a sua cara. O que me irritou foi que tudo estava exatamente como fáriamos no nosso casamento. Mas não dei espaço pra tanta raiva. Gastei todo o meu tempo imaginando que ali no altar deveriam estar os nossos amigos padrinhos, nossos pais, e eu, como noiva. 
    Senti várias vezes que as músicas queriam me dizer algo. Me davam sinais. Como se me induzissem à parar com aquele casamento, matar o meu orgulho e declarar todo meu amor que ainda estava vivo e vociferando dentro de mim. Mas não tive forças. Não tive coragem. Eu fui covarde mais uma vez. Mas fui sã e correta. Se considerar-mos correto deixar que as coisas aconteçam sozinhas. 
   Não suportei a dor e não segurei o pranto quando te vi naquele altar, esperando sua noiva, e quando olhou pra mim, colocando a mão no lado esquerdo do peito, como sempre fazia pra me dizer que seu coração estava batendo mais rápido quando me via. Eu vi. Eu tive a certeza de estar vendo uma lágrima escorrendo no seu rosto. Foi quando sua noiva chegou.
   Aproveitei então, que todas as atenções estariam voltadas pra ela, e decidi ir embora. Sim, até porque não aguentaria mais ficar ali até o fim. Olhei pra trás várias vezes esperando que você viesse atrás de mim. Mas pude te ver inerte, apenas de cabeça baixa. Tocava "Planeta água" e minhas lágrimas derramavam em mim um planeta de lembranças. Desde o começo, até o dia em que recebi o convite. Bom, depois de lá, fui ao lugar onde nos encontramos pela primeira vez. Pude sentir seu cheiro, seu abraço, ouvir sua voz. Mas deve ter sido apenas o efeito da bebiba. Sim, querido, acredite. Eu bebi. Bebi por sua causa.  
    Agradeço o convite porque pude, com aquele casamento, que me esfregou na cara de uma vez por todas que te perdi, continuar minha vida. As vezes tenho minhas recaídas, penso em você e choro. Mas aos poucos sei que vai passar. Talvez eu me arrependa por não ter estragado aquilo tudo. Talvez. Mas é tarde.

                     Eu sigo só hoje. Sigo só, hoje. Sigo, só hoje. Eu sigo!

                   Joguei fora impurezas que achei embaixo do seu tapete velho. Apaguei os beijos marcados que vi ressaltados em suas mãos. Perdi a conta de quantas cartas velhas achei no seu relicário. Rasguei-as e queimei. Quis renovar sua cabeça, seu sonhos, seus planos. Esqueci seu coração. Trabalho debalde, o meu.