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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Das promessas.

      “Prometemos pra nós mesmos ser eternos até o fim. Mas os dias passam, o mundo gira, a vida continua. As mudanças surgem porque escritas foram, antes mesmo de nascermos. Não há como fugir e nem pra quê. Padecemos e obedecemos ao destino. Promessas foram feitas na intenção de serem cumpridas, mas quem manda no vento que troca de caminhos? Quem manda nos grãos de areia que em questão de segundos podem mover-se para outro lugar?
Promessas: Palavras perdidas.
        Sonhamos todos os dias com olhos fechados e bem abertos. Mas sonhar e querer, não é ter fé. Pra cada dia tivemos a oportunidade de nascer, renascer, recomeçar ou até mesmo só acordar, e fazer valer à pena a chance que tivemos de estar juntos por uma “estação”. Estação essa, que como os dias passam, o mundo gira, o vento troca de caminhos e como os grãos de areia movimentam-se, também passou.
        Em uma só estação tivemos temporais, alegrias ensolaradas, o chuvisco que nos une com um abraço, o florescer da vida, e agora, um outono. De longe repentino, onde todas as folhas caem e renovam-se.
Chegou então o momento do recomeço, ou, diga-se de passagem, um começo novo. Novas histórias, novos dias, novos ventos, novos grãos a movimentar-se, novas canções, tempestades e flores. Assim sendo, até que venha uma próxima estação."

Casualmente.

      Meia-noite não é lá uma boa hora pra se bater na porta de alguém, mas você veio. E veio com uma das desculpas mais insanas que já escutei. Pra que serviria uma vela, no clarão da sua vida, à meia-noite? Sorri pra você pra que soubesse que estava tudo bem e que eu estava feliz em vê-lo. Foi aí que me abraçou, com um abraço que só a meia-noite explica. Na monotonia dos meus braços sós, eu soube, a partir dali, que nunca mais estaria. Pelo menos não naquele momento, em que todo segundo parecia -e pra mim era- infinito. "Mais vale vários infinitos do que apenas um", pensei.
     Olhava em meus olhos como se fosse o primeiro olhar de quem se diz perdidamente apaixonado, e eu que nem tenho fé no amor. (OK, eu tenho.) Acredito no amor e seus poderes. Alisei seus cabelos que, de repente, estavam voando, sem vento. Conversamos na escada. Fui tão mal-educada no seu ponto de vista, talvez. Mas nem tinha tempo pra pensar em educação e, sobretudo, nunca tive muita amizade com o tempo.
     Falamos sobre você, sobre mim, sobre o frio e sobre minha frieza. Falamos de música e poesia, do passado, mas passou. Calamos. Trocamos silenciosamente o calor das minhas mãos nas suas, sorrimos. Eu queria nunca ver o tempo passar, a não ser ali, daquela forma, de mãos entrelaçadas. Toquei seu rosto, seu nariz gelado. 
Eu ainda tinha tanto a dizer desde a última vez que nos vimos que achei que não fosse ter tempo e economizei nas palavras com medo de não poder concluir. Então, resumi todo o meu discurso em um olhar e uma só palavra: "saudade".
     Você sorriu e me abraçou. Vi seus olhos brilhando e todo aquele brilho refletiu nos meus. Eu não queria te ver longe, mas não sabia o que fazer. Entreguei-me ao acaso.
Parecia só existir nós dois no mundo. O tempo estava voando e não sei se só metaforicamente. Você “colou” seu nariz no meu, senti que viria um beijo... despertei.
Amanheceu, era só um sonho. Bateram na porta às 06h00: carteiro. Era uma carta sua. Abri desesperadamente, senti seu cheiro, chorei. Dizias "Sonhei com você... SAUDADE!"