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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sobre o convite.

 Vim. E vim pra te agradecer por ter me convidado para seu casamento. Quase não fui, confesso. Tive medo e me segurei pra não estragar tudo. Me perguntei se me convidara por consideração ou por deboche, apenas pra me provocar, o que faz bem o seu tipo. E se foi a segunda, a sua opção, conseguiu. E no fundo já sabias que conseguiria. Doeu em mim, mas não queria sair como perdedora. E fui. Fui na esperança de que desistisse de tudo e ficasse comigo. Fui. E fui linda.
  Estava tudo deslumbrante, lindo. Detalhista, como você sempre foi, cuidou pra que tudo ficasse a sua cara. O que me irritou foi que tudo estava exatamente como fáriamos no nosso casamento. Mas não dei espaço pra tanta raiva. Gastei todo o meu tempo imaginando que ali no altar deveriam estar os nossos amigos padrinhos, nossos pais, e eu, como noiva. 
    Senti várias vezes que as músicas queriam me dizer algo. Me davam sinais. Como se me induzissem à parar com aquele casamento, matar o meu orgulho e declarar todo meu amor que ainda estava vivo e vociferando dentro de mim. Mas não tive forças. Não tive coragem. Eu fui covarde mais uma vez. Mas fui sã e correta. Se considerar-mos correto deixar que as coisas aconteçam sozinhas. 
   Não suportei a dor e não segurei o pranto quando te vi naquele altar, esperando sua noiva, e quando olhou pra mim, colocando a mão no lado esquerdo do peito, como sempre fazia pra me dizer que seu coração estava batendo mais rápido quando me via. Eu vi. Eu tive a certeza de estar vendo uma lágrima escorrendo no seu rosto. Foi quando sua noiva chegou.
   Aproveitei então, que todas as atenções estariam voltadas pra ela, e decidi ir embora. Sim, até porque não aguentaria mais ficar ali até o fim. Olhei pra trás várias vezes esperando que você viesse atrás de mim. Mas pude te ver inerte, apenas de cabeça baixa. Tocava "Planeta água" e minhas lágrimas derramavam em mim um planeta de lembranças. Desde o começo, até o dia em que recebi o convite. Bom, depois de lá, fui ao lugar onde nos encontramos pela primeira vez. Pude sentir seu cheiro, seu abraço, ouvir sua voz. Mas deve ter sido apenas o efeito da bebiba. Sim, querido, acredite. Eu bebi. Bebi por sua causa.  
    Agradeço o convite porque pude, com aquele casamento, que me esfregou na cara de uma vez por todas que te perdi, continuar minha vida. As vezes tenho minhas recaídas, penso em você e choro. Mas aos poucos sei que vai passar. Talvez eu me arrependa por não ter estragado aquilo tudo. Talvez. Mas é tarde.

                     Eu sigo só hoje. Sigo só, hoje. Sigo, só hoje. Eu sigo!

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