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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Da carta recebida.

      Exatamente às 20:30, o mesmo horário em que sempre nos encontrávamos, recebi uma correspondência. Não tinha endereço. Não havia remetente. Apenas um envelope velho, tanto quanto o costume de mandar cartas. Abri. Era um papel velho, rabiscado, rasgado e amarelado pelo tempo. Era um papel velho. Sensível e tosco. Era um papel rabiscado. Era velho, fim. A letra era medonha, engraçada e vermelha. Logo reconheci, meus olhos brilhavam e enchiam de lágrimas. Era você!
     Li, interpretei de várias formas, idealizei várias realidades, mas entendi o recado. Sempre foi assim, não é? Jamais fomos objetivos. Não lembro de termos feito alguma promessa, mas nunca fomos diretos ao ponto. Aquela folha amarelada e ressecada não era apenas o primeiro bilhete que você me deu, significava o fim de tudo. Aquelas rimas toscas e repetidas, significavam suas palavras vazias, nossas promessas vãs e nossas discussões sem propósito. Hoje eu vejo que te entendia e me surpreendo com sua forma sutil de pôr um fim nas coisas e mostrar que tudo está descolorido.

     Fechei a carta. Peguei o café, um dos seus vícios. Abri as janelas, deixei o vento circular. Pus a meia, não queria sentir frio. Me joguei no sofá, resolvi esperar a madrugada. Sua carta cabia na palma da minha mão. Por muito tempo eu esperei criar coragem e jogá-la pela janela. Mas não criei coragem e tampouco, motivos. Nunca fui do tipo infantil, você me conhece. E por falar em conhecer, encontrei seu avesso. Deixei naquele parque e as lembranças deixei no mar, como quando dei aquele mergulho na sua vida e deixei a minha. Tudo foi ficando com você. Tudo foi ficando. E agora tudo está indo. Tudo está voltando.
     Não reparem a letra, não reparem os verbos. Não reparem a falta de coerência. Mas minha cabeça está longe. Eu não sei como apagar tatuagens. Eu não sei como apagar marcas. Já tentei novos amores. Já tentei rasgar as cartas. Já tentei de várias formas substituir. Mas sua vida sempre vem parar na minha.
    
Oito e meia da manhã. É hora de levantar. Sua carta (minha carta) voou pela janela sem que eu precisasse jogá-la. Meu cabelo assanhou. Minha unha quebrou. Minha meia está rasgada. Meus planos eu refiz em sonhos. O sol está aparecendo. Hoje vou à praia. Vou mergulhar mesmo com medo. Vou dar sete pulinhos, fazer pedidos e praticar o desapego. 

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