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sábado, 11 de maio de 2013

A rima de Maria.

   




       Escrevi uma carta ao padeiro da esquina, agradeci o pão quentinho de cada dia, não reclamei do tamanho, desejei coisas grandes e muito fermento na vida. Ao Zé da carne, agradeci a boa higiene, não reclamei do preço, desejei fartura. À manicure -com os dedos doloridos- escrevi agradecendo-lhe os hidratantes, não reclamei dos "bifes", desejei muitas mãos amigas. Ao João do relógio, agradeci pelos ponteiros, não reclamei da hora, desejei muito tempo livre. Ao Tom do violão, agradeci os arranjos perfeitos, não reclamei do desafino, desejei novas canções. À Antônia do bordado, agradeci as linhas curvas, não reclamei dos buracos feitos, desejei novas costuras. Ao melhor amigo, agradeci a paciência, reclamei da distância, desejei boa memória. A mim mesma, agradeci a luta, não perdoei - ainda- os erros, desejei fé e boa conduta. Ao Chico, mais conhecido como poeta, somente agradeci: "Obrigada, Chico", escrevi. E assinei: Eu, Maria, que não rimo com nada, ao ler o que escrevias, chorava, mas também sorria.


Percebi, então, que posso ser rima, em qualquer estrofe perdida.

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